domingo, 18 de março de 2012

Kony 2012 não conseguiu aguentar atenção global


Realizador do vídeo Kony 2012 não conseguiu aguentar atenção global


Jason Russell foi levado para uma clínica depois de um colapso em público 
 O sucesso do vídeo é inquestionável: mais de 80 milhões de pessoas já o viram. Mas o sucesso veio acompanhado de críticas vocais: era demasiado simplista, vinha tarde demais, tinha um tom paternalista, defendia intervenção estrangeira, etc etc. O realizador do vídeo não conseguiu lidar com as proporções – e as críticas – da campanha: teve um colapso.




Jason Russell, um dos fundadores da Organização Invisible Children, realizador do filme, que dá também a voz e a cara e mostra o seu filho nas filmagens, não poderia sonhar com um melhor resultado: o vídeo queria “tornar Kony famoso”, para as pessoas soubessem que apesar de décadas de atrocidades e de uma acusação do Tribunal Penal Internacional, o senhor da guerra ugandês ainda não foi preso. 


Mas Russell também não poderia ter imaginado pior pesadelo: um escrutínio apertado da sua organização, críticas vindas de todos os lados: desde o Uganda, onde foi projectado e onde as vítimas de Kony não aceitaram bem a proposta de “tornar Kony Famoso”, e entretanto até do Governo ugandês que fez um filme de resposta garantindo que o país já não está em guerra e que Kony não se encontra no Uganda há muito tempo (estima-se que esteja entre o Sudão do Sul, a República Democrática do Congo ou a República Centro-Africana).


Sem problemas de álcool ou drogas
A notícia de que Jason Russell tinha sido detido pela polícia após causar “agitação pública” em San Diego, Califórnia, onde vive, andando pela rua com pouca ou nenhuma roupa (os testemunhos variam), batendo com os punhos no chão fazendo parar o trânsito ou fazendo gestos sexuais (os testemunhos, mais uma vez, variam) e que foi depois encaminhado para receber tratamento, juntou outro elemento ao debate. 


A família veio garantir que Russell 33 anos, não tinha consumido álcool ou drogas. Apenas não conseguiu, disse a mulher, aguentar a pressão global. “Pensámos que alguns milhares de pessoas veriam o filme, mas em menos de uma semana milhões viram-no”, sublinhou Danica Russell. O vídeo chamou a atenção para Kony, “mas também para Jason”. O lado pessoal do filme fez com que as críticas atingissem o realizador de modo especialmente agudo, concluiu.


O poder da simplificação
O vídeo da organização não-governamental Invisible Children apresentava uma narrativa do Uganda feita à medida do filho de Jason Russell. "Quem é o mau da fita?", perguntava Russell ao filho. Em frente da criança loura, uma fotografia de Joseph Kony, líder do Exército de Resistência do Senhor, acusado pelo Tribunal Penal Internacional em 2005 e nunca capturado. 


Quem vir o vídeo pode pensar que o país ainda está em guerra e que Kony ainda rapta centenas, ou milhares, de crianças. Isto já não é verdade: desde há seis anos que Kony não está no Uganda, e o seu Exército de Resistência do Senhor terá no máximo centenas de elementos a viver no mato, dizem analistas.


Há ainda quem não tenha gostado de ver um foco numa intervenção dos Estados Unidos - e não de países africanos - para ajudar a levar Kony ao TPI. Mas há quem dê crédito à Invisible Children por, antes da divulgação do vídeo, ter feito pressão para o envio de cem conselheiros militares americanos que estão, desde Outubro passado, envolvidos nas operações de localização e captura de Kony.


No Uganda, o filme não foi bem recebido. A dada altura, a mensagem do vídeo é um simples: "Vamos tornar Kony famoso". Isso seria importante para chamar a atenção para a sua existência (pois ele é actualmente "invisível", defende o vídeo) e o facto de continuar a conseguir não ser capturado. Mas as vítimas não o entenderam assim. Numa projecção na cidade de Lira, no Norte do país (onde há muitas vítimas de Kony), houve um momento em que as pessoas começaram a lançar pedras. 


Eficácia sem precedentes


Os defensores do vídeo apontam para a sua eficácia: nunca terá sido conseguida tanta atenção para os 30 anos de crimes de Kony. 
Fonte:http://www.publico.pt/Mundo/realizador-do-video-kony-2012-nao-conseguiu-aguentar-atencao-global-1538396

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