sábado, 30 de junho de 2012

Estádios abandonados: o legado da Copa na África Por: Eliane Almeida África do Sul 30 de junho de 2012 | Postado em: Geral, Notícias


O sonho brasileiro de sediar a Copa do Mundo em 2014 fica mais caro a cada dia. O orçamento inicial era de R$ 20 bilhões, mas, de acordo com o último levantamento do Ministério dos Esportes, já ultrapassa os R$ 30 bilhões. Será que tanto investimento deixará um legado realmente importante para o Brasil?

Vejamos o exemplo da última sede, a África do Sul. Quando o som das vuvuzelas cessaram, vieram à tona, dia após dia, debates sobre como utilizar toda a estrutura construída para o evento.

Com um investimento de US$ 8 bilhões, a África do Sul levantou cinco estádios e realizou a infraestrutura necessária para receber as delegações e turistas de todo o mundo. No total, nove cidades foram qualificadas para sediarem o evento: Durban, Cape Town, Joanesburgo, Porto Elizabeth, Pretória, Rustemburgo, Polokwane, Nelspruit, Bloemfontein,



Dois anos após a realização da Copa, o país africano amarga prejuízos com a manutenção desses estádios. Cape Town, por exemplo, detém o palco mais caro da Copa, que chegou a ser usado nas semifinais do mundial. O Green Point Stadium, com capacidade para 66.005 pessoas, custou cerca de US$ 600 milhões para ser construído. E, apesar da cidade possuir dois times de futebol e uma das equipes de rugby mais famosas do país, o Vodacom Stormers, o Green Point quase nunca recebe jogos.

Só o custo para manutenção do Green Point Stadium é cerca de R$ 10,5 milhões por ano, segundo o jornal sul-africano Mail and Guardian. Quem dá assistência a este ‘elefante branco’ é a prefeitura que, por meio de uma reunião na Câmara, chegou a cogitar até a demolição do estádio. Mesmo com ótima infraestrutura nos arredores, contando com bares, restaurantes e até praia, o Green Point não tem acesso fácil, o que dificulta a animação de torcedores para acompanharem os jogos. Para chegar até o estádio, eles contam com táxis ou as famosas e superlotadas vans particulares, já que as linhas urbanas de ônibus são deficientes e é raro vê-los passando por lá. O poder público engrossa a receita com alguns shows realizados esporadicamente.

Em Porto Elizabeth, que foi a segunda sede com mais jogos na Copa, ao lado de Cape Town e atrás apenas de Joanesburgo, a história é pior. No Nelson Mandela Bay Stadium, nem as traves sobreviveram ao abandono. Hoje, o campo é usado em jogos da segunda divisão do campeonato de rugby e eventos de vinhos.

A população ainda sente as mudanças feitas. Muitos moradores retirados das áreas desapropriadas para a construção dos estádios reclamam que as promessas do governo não foram cumpridas e que vivem em condições piores do que antes. Segundo levantamento feito pela Nações Unidas em 2010, o impacto de eventos de grande porte, como os Jogos Olímpicos por exemplo, nas cidades-sede são, no mínimo, chocantes. Em Seul, na Coréia do Sul (sede em 1988), 15% da população foi desalojada e 48 mil edifícios foram destruídos. Em Atlanta, EUA (sede em 1996), 15 mil pessoas foram transferidas, e em Pequim, China (sede em 2008), um milhão e meio de pessoas foram removidas para que obras fossem levantadas.

Em um município no sudoeste de Joanesburgo, crianças, que acabaram conhecidas mundialmente, morando em casas de lata, continuam lá.

Em contra partida, alguns sul-africanos ouvidos pela reportagem acreditam que o evento foi muito benéfico para o país. Principalmente para a união entre as raças, que viveram por muito anos o Apartheid. “O futebol manteve o país inteiro junto. Por este tempo não houve diferença na raça. Todos estavam grudados e sentindo o mundo do futebol. O crime, a meu ver, realmente diminuiu e tudo para mostrar aos visitantes de todo o mundo o que os sul-africanos podem fazer quando estão de mãos dadas”, orgulha-se Josef-Heinrich Möller, morador de Cape Town.

Sem dúvida um evento deste porte sustenta a economia local e projeta o país para todo o mundo, mas o exemplo africano nos mostra que é válida uma avaliação mais profunda do investimento feito com o dinheiro público, principalmente quando diz respeito ao povo brasileiro.

A tempo:

Em 2010 o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Social) criou uma linha de crédito, inédita, para financiar a construção das arenas, mesmo que, três anos antes, quando da escolha do Brasil para realizar o Mundial, Ricardo Teixeira, então presidente da CBF, garantisse que não haveria aporte de recursos públicos para a realização do evento. De acordo com um estudo realizado pela Consultoria Legislativa do Senado Federal, se o Brasil mantiver o padrão de investimentos gastaremos na Copa do Mundo mais do que foi investido nas últimas três edições do mundial: Coréia e Japão (2002) – US$ 16 bilhões, Alemanha (2006) – US$ 6 bilhões, e África do Sul (2010) – US$ 8 bilhões.

Fonte:IAnotícia

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