Pesquisadores estão perto de criar a pílula do esquecimento
Em um futuro próximo, recordar será uma escolha
por Redação Galileu
Cientistas estão perto de sintetizar pilulas do esquecimento // Crédito: Shutterstock
Quando Bentinho Santiago reconta a seu leitor fatos de seu passado para chegar a conclusão de que Capitu o havia traído, em Dom Casmurro, o escritor Machado de Assis usa seu personagem para mostrar que a memória nos prega peças e é influenciada por nossos sentimentos.
Se essa hipótese existia há muito tempo, a neurociência moderna não só comprova tudo, como vale-se desse estudo para criar a tão sonhada ‘pílula do esquecimento’. Em breve, lembranças ruins e traumas do passado poderão ser completamente varridos do seu cérebro, de forma simples e fácil. Entenda:
Como funciona nossa memória?
Novas pesquisas mostraram que memória não está relacionada apenas com o passado. Cada vez que nos lembramos de um evento, a estrutura do cérebro responsável pela memória é alterada de acordo com o momento atual, deformada pelos nossos sentimentos e pelo conhecimento adquirido através dos anos. Em outras palavras, quanto mais tempo se passa, mais o medo e a tensão de, por exemplo, um trauma passam de sensações momentâneas a partes integrantes da própria lembrança.
De acordo com o neuroscientista e um dos pioneiros dos estudos na área, Joseph LeDoux, o cérebro não está interessado em um conjunto perfeito de lembranças. A memória vem como um mecanismo natural de atualização, é como certificar que as informações que ocupam espaço em nossa cabeça ainda não úteis. Isso pode tornar nossa memória menos precisa, mas também a torna mais relevante para o futuro.

Quando lembramos de algo, a estrutura do cérebro responsável pela memória é deformada pelos nossos sentimentos // Crédito: Shutterstock
Em relação à parte física, sempre que o cérebro mantém uma lembrança, ele utiliza uma pequena quantidade de produtos químicos. A novidade é que a neurociência tem descoberto que uma família igualmente pequena de compostos químicos pode ser sintetizada em forma de pílula e neutralizar os do cérebro, funcionando como uma verdadeira borracha.
Como funcionará a pílula do esquecimento?
Cada memória começa como um conjunto modificado de ligações entre as células do cérebro. Para uma lembrança existir, é necessário que um conjunto de tecidos elétricos seja unido mais firme que o normal, de modo que um dispara a as células do tecido imediatamente acima. Assim, vem a fase de consolidação, quando um circuito de células que representam uma memória é ligado em conjunto.
Para estabilizar os circuitos neurais, o cérebro acaba sintetizando proteínas. Os cientistas conseguiram identificar uma delas, chamada PKMzeta. Para fabricar a pílula de esquecimento, os pesquisadores estão estudando administrar uma droga para bloquear a ação dessas proteínas e que não afete as demais funções do cérebro.

Gráfico mostra como a pílula agirá // Crédito: Teagan White para Wired
Esqueça amanhã
Mas, engana-se quem pensa que esses estudos estão distantes da realidade. Na verdade, junto com LeDoux, o pesquisador Karim Nader já têm avançado em suas pesquisas com cobaias. Com choques elétricos repetitivos, fez com que ratos criassem a memória de que, ao se aproximarem de um dos cantos da gaiola, se machucariam.
Depois de um tempo, Nader passou a dar pequenos quantidades de hormônios inibidores de PKMzeta e notou que, em pouco tempo, os ratos voltavam a frequentar o canto ‘perigoso’ da gaiola. Apesar do sucesso em cobaias, pesquisas mais perfeiçoadas serão feitas em breve e os testes em humanos parece estar cada vez mais próximo.
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