Quais as línguas mais difíceis de aprender?
Romeno é mais fácil que inglês. E nenhum idioma é mais complicado que o - pausa para respiro - !Xóõ
por Daniela Kopsch, Felipe Van Deursen e Renata Steffen
Aprender uma nova língua não é fácil, mas por que algumas são mais difíceis que outras? Dois motivos. Primeiro, a distância entre elas na árvore genealógica dos idiomas. Quanto mais próxima, mais fácil de aprender. Outros critérios contam, como alfabeto e pronúncia. Mas o segundo motivo é motivação, segundo linguistas e professores. Ela faz a diferença. Ou seja, você pode até ficar fluente em !Xóõ (pronuncia-se estalando a língua no céu da boca), mas vai precisar de mais tempo. E muita paciência.
Legenda
FAMÍLIA LATINA - Línguas que se originaram da mistura do latim com dialetos populares da Europa e se modificaram ao longo do tempo.
OUTRAS FAMÍLIAS
ALFABETO LATINO - Pode ganhar caracteres para representar sons que não existem nas línguas latinas. Mas a base continua a mesma.
OUTROS ALFABETOs
LÍNGUA TONAL - Tem palavras que mudam completamente o significado, dependendo da entonação que se usa para pronunciar.
NÚMERO DE NATIVOS - Pessoas que têm esse idioma como língua materna.
Fácil
Idiomas com mesma origem têm mais semelhanças. As línguas latinas são como primas que cresceram juntas, mas se afastaram. Francês é mais difícil que espanhol e italiano porque teve influência germânica (exemplo: chic vem do alemão schick). E o inglês é a amiga que se enturmou: somos mais suscetíveis a aprender a língua que está em todo lugar.
Espanhol
Número de nativos - 390 milhões
Família latina
Alfabeto latino
Italiano
Número de nativos - 80 milhões
Família latina
Alfabeto latino
Francês
Número de nativos - 220 milhões
Família latina
Alfabeto latino
Romeno
Aprender a língua do Conde Drácula não é assim tão difícil. Existem aproximadamente 500 palavras semelhantes ou até iguais entre romeno e português. Um exemplo é "superior", que se escreve e pronuncia da mesma forma.
Número de nativos - 24 milhões
Família latina
Alfabeto latino
Inglês
Número de nativos - 400 milhões
Outras famílias - Germânica
Alfabeto latino
Médio
Aqui entram idiomas de famílias diferentes, mas quase sempre com o mesmo alfabeto: o latino, o mais usado no mundo. Mesmo línguas de outras famílias ficam mais próximas quando usam o mesmo alfabeto de base. Neste caldeirão de letras latinas, está a maioria dos idiomas da Europa.
Alemão
Número de nativos - 100 milhões
Outras famílias - Germânica
Alfabeto latino
Islandês
Número de nativos - 320 mil
Outras famílias - Germânica
Alfabeto latino
Polonês
Número de nativos - 42,7 milhões
Outras famílias - Eslava
Alfabeto latino
Finlandês
É uma das raras línguas ocidentais que não deriva do tronco indo-europeu, mas do urálico (junto com o húngaro e o estoniano). A diferença aparece principalmente na pronúncia, cheia de vogais. Às vezes lembra o japonês.
Número de nativos - 7 milhões
Outras famílias - Fino-permiana
Alfabeto latino
Turco
Número de nativos - 73 milhões
Outras famílias - Turcomana
Alfabeto latino
Grego
Inspirou o latim, origem da língua portuguesa. É, digamos assim, um tio-avô. Então, mesmo com um alfabeto diferente, a expressão "tô falando grego" deveria brincar com outra língua, pois o grego está longe de ser o idioma mais difícil do mundo.
Número de nativos - 13 milhões
Outras famílias - Helênica
Outros alfabetos - Grego
Difícil
O aprendizado de uma língua passa pela escrita. Aqui nos deparamos com letras, ideogramas e sinais que nos são estranhos. E muitas dessas línguas são tonais, o que dificulta. A palavra vietnamita khao, por exemplo, pode significar "ele", "ela" ou "branco", dependendo do tempo levado para falar as vogais.
Vietnamita
Número de nativos - 73 milhões
Outras famílias - Mon-khmer
Alfabeto Latino
Língua tonal
Russo
Número de nativos - 164 milhões
Outras famílias - Eslava
Outros alfabetos - Cirílico
Tailandês
Número de nativos - 60 milhões
Outras famílias - Kradai
Outros alfabetos - khmer
Língua tonal
Mandarim
Número de nativos - 885 milhões
Outras famílias - Sino-tibetana
Outros alfabetos - Logograma
Língua tonal
Japonês
Assim como no mandarim, aprendizes de japonês precisam memorizar milhares de ideogramas. São dois sistemas silabários e cinco de escrita. Haja coração (e memória) para encarar essa língua.
Número de nativos - 127 milhões
Outras famílias - Japônica
Outros alfabetos - Logograma
Língua tonal
Coreano
Número de nativos - 71 milhões
Outras famílias - Língua isolada
Outros alfabetos - Hangul
Língua tonal
Árabe
O árabe é tão difícil de aprender a ler que o lado direito do cérebro (responsável por dar uma leitura geral das letras) fica sobrecarregado e simplesmente desliga, deixando o lado esquerdo se virar sozinho.
Número de nativos - 206 milhões
Outras famílias - Semítica
Outros alfabetos - Árabe
Quase impossível
O sistema vocal complexo de alguns idiomas exóticos torna a tarefa de aprendê-los quase impossível. O que vai fazer diferença, daqui para a frente, é a determinação e a força no gogó. Há registros de africanos que desenvolveram caroços na laringe por causa do !Xóõ.
Tuyuca
Só consoantes simples, poucas vogais nasais e um amplo vocabulário. Calma que piora: para os indígenas da Amazônia que dominam a língua, a única forma de afirmar algo é terminando a frase com um verbo (Yoda tuyuca fala?).
Número de nativos - menos de mil
Outras famílias - Tukano oriental
!Xóõ
Em Botsuana, na África, as pessoas conversam usando cliques (estalos feitos com a língua no céu da boca). O alfabeto é construído com cinco cliques básicos e 17 adicionais.
Número de nativos - 2,5 mil
Outras famílias - Khoisan
Fontes Neide González, professora de linguística da USP, especializada em aprendizagem de língua estrangeira; Heloísa Salles, coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Linguística/UnB; Cláudia Mendes Campos, professora da UFPR; Cambridge Encyclopedia of Language; SIL International
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