
Investigadores líbios disseram ter identificado dezenas de bilhões de dólares em bancos suíços que jamais foram congelados - tudo proveniente da vasta riqueza do petróleo líbio e disfarçado sob nomes inócuos. Em Tunísia e Egito, os novos governos estão buscando no exterior patrimônios imobiliários, náuticos e contas em bancos que, acredita-se, podem valer bilhões.
Nesses três países, investigadores enfrentam grandes obstáculos para rastrear o dinheiro. Na Líbia, lucros ilegais do petróleo foram com frequência lavados através de complexas parcerias e ganharam traços de legitimidade. Em Egito e Tunísia, os novos governos estão tentando recuperar os bens das famílias dos ditadores e seus aliados no comércio e na indústria - que eles dizem terem sido ganhos com corrupção e até com roubo. Provar que essas fortunas foram conquistadas ilicitamente pode ser extremamente difícil, especialmente quando sistemas legais estrangeiros estão envolvidos.
Em alguns casos, as pessoas que sabem onde o dinheiro é mantido estão sob risco - não apenas porque são vistas como criminosos em seus países, mas também por guardarem segredos de acordos questionáveis e corruptos que implicam companhias e governos no mundo árabe e no Ocidente.
Shukri Ghanem, ex-ministro do Petróleo líbio que fugiu do país no ano passado, foi encontrado morto em circunstâncias misteriosas em abril no Rio Danúbio, em Viena. Dias antes, em troca de imunidade, ele havia se oferecido para dizer a autoridades líbias tudo o que sabia sobre os negócios petrolíferos da era Kadafi.
Outro confidente de Kadafi, Bashir Saleh Bashir - o único homem que sabe o destino dos US$ 7 bilhões em investimentos do ditador na África - foi capturado por rebeldes no ano passado, mas aparentemente conseguiu fugir. Ele teria informações sobre um suposto acordo ilícito entre Kadafi e o ex-presidente francês Nicolas Sarkozy. Seu paradeiro é desconhecido.
Até aqui, nenhum desses "bens sombrios" foi recuperado. Em março, as autoridades líbias ganharam a posse de uma casa de US$ 15 milhões em Londres que pertencia a Saadi Kadafi, um dos filhos do ditador. Duas aeronaves em França e Suíça antes pertencentes ao ex-ditador tunisiano Zine el-Abidine Ben Ali, avaliadas em US$ 30 milhões, foram transferidas no ano passado ao novo governo da Tunísia. E os bens congelados ao longo do ano passado estão gradualmente sendo repassados.
O resto do dinheiro é difícil de ser encontrado, já que geralmente está distribuído entre múltiplas frentes, em vários países. Em teoria, grande parte ainda poderia ser sacada pelos intermediários que fizeram os depósitos. Uma vez identificado e congelado, o dinheiro ainda pode ser demandado judicialmente pelas famílias.
Advogados contratos pelo clã de Ben Ali não medem esforços para tentar repatriar os US$ 70 milhões atualmente em bancos suíços. E Saadi Kadafi, atualmente no Níger, já mostrou interesse em defender seus direitos em relação à casa em Londres.
- Recuperar esses bens não é fácil - disse Robert Palmer, investigador do grupo anticorrupção Global Witness. - Primeiro, é preciso descobri-los e certificar que pertencem aos políticos em questão. E depois, comprovar que eles são corruptos.
Mesmo no caso de dinheiro localizado e congelado, demoras no processo de recuperação levaram a tensões entre novos governos e o Ocidente. Em março, o governo egípcio abriu uma ação contra o Tesouro britânico na tentativa de repatriar cerca de US$ 135 milhões em contas bancárias do círculo de poder de Mubarak. A Suíça mantém bloqueados US$ 450 milhões em contas da família do ex-ditador à espera da resolução de demandas egípcias.
Na Líbia, há muito mais dinheiro envolvido, grande parte perdida, diz Mustafa Abushagur, vice-primeiro-ministro do governo de transição. Dos US$ 160 bilhões de bens do Estado líbio no exterior, parte nunca foi encontrada simplesmente porque alguns países se recusaram a colaborar.
- Bashir Saleh Bashir é o único que sabe tudo sobre esse dinheiro. E não só isso: ele ainda tem acesso - disse o banqueiro líbio Abdelhamid el-Jadi, que presta consultoria ao governo de Trípoli sobre a recuperação dos bens.
Autoridades líbias, que neste mês divulgaram uma lista com 338 pessoas e entidades ligadas a bens roubados, dizem ser importante recuperar o dinheiro rapidamente porque alguns países africanos já começaram a nacionalizar investimentos líbios. A Zâmbia, por exemplo, assumiu o controle em janeiro da Zamtel, maior companhia telefônica do país e que era em grande parte propriedade líbia.
fonte:http://ianoticia.blogspot.com.br/2012/06/patrimonio-obscuro-de-ditadores-arabes.html
Fonte: Agência O Globo
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