
Após dois dias de negociações nada resolvido. E no dia seguinte ao fim de mais essa tentativa de acordo a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) - diz ter descoberto evidências de urânio enriquecido a um nível de pureza superior ao limite de 20%.
Mas enquanto o mundo volta suas preocupações à República Islâmica, uma outra região - tão ou mais perigosa - está sendo subestimada: o sul da Ásia, nos arredores do Paquistão. Essa é a percepção de um dos mais importantes cientistas políticos especializados no assunto, George Perkovich, diretor do Programa de Políticas Nucleares do Fundo Carnegie Endowment para a Paz Internacional.
Perkovich diz que um possível ataque ao Irã não vai impedir o país de fabricar uma bomba e que teme um conflito entre Paquistão e Índia. "Ninguém sabe ainda como lidar com essa ligação entre terrorismo e ação militar convencional que pode escalar em uma guerra nuclear. Não há precedentes." Confira, a seguir, os principais trechos da conversa:

Os Estados Unidos ameaçam, mas não parecem dispostos a bombardear o Irã. Por quê?
Bombardear o Irã não é uma solução. Os líderes militares têm dito que podem destruir qualquer alvo que sejam capazes de identificar, mas isso não vai ser suficiente para resolver o problema no Irã. A preocupação agora é que Israel - e, particularmente, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e o ministro da defesa Ehud Barak, dois homens que parecem ter um limite mais curto em relação ao que podem suportar do Irã - tem uma percepção diferente da dos EUA. Para eles, pode ser necessário empregar o uso da força contra o Irã antes que os EUA considerem realmente essa possibilidade. Esse é o grande desafio. Mas quanto aos EUA, não vejo interesse em um ataque preventivo agora.
Como se posicionaria os Estados Unidos, caso Israel resolvesse atacar?
É uma situação difícil. Mesmo que os EUA não apoiem um ataque israelense, terão de dizer ao Irã para não retaliar contra seus aliados - os sauditas, os Emirados Árabes, o Catar - nem contra nossas bases militares, e não atacar navios no Golfo. Porque se os iranianos fizerem qualquer coisa do tipo, os Estados Unidos terão de se envolver na guerra. Então, mesmo que o governo americano não dê apoio às ações de Israel, as retaliações do Irã podem levá-los à guerra. E é isso o que Israel quer.
Em quanto tempo o Irã poderia construir uma arma atômica?
Nem mesmo os técnicos e serviços de inteligência fazem estimativas não tão claras. Acho que o Irã pode chegar lá em menos de dois anos agora. Então, é necessário buscar acordos que limitem o nível de enriquecimento de urânio e aumente a transparência e o acesso das inspeções, e também fazer com que o Irã se comprometa a não fazer certos experimentos relacionados à construção da bomba. Há experimentos relacionados à geração de energia, mas há testes específicos, como implodir metais. Isso você faz quando quer construir armas nucleares. Se você atingir um acordo com tudo isso e se o Irã violar esse acordo, você terá o aviso: "Ok, agora eles estão fazendo armas nucleares".
É nesta região onde mora o risco de uma guerra nuclear hoje em dia?
O maior risco está no sul da Ásia, na região do Paquistão. A Índia foi atacada por terroristas em 2001 e em 2008. Os ataques vieram de grupos do Paquistão. Se houver outro ataque, haverá pressão por retaliação por parte da Índia. O Paquistão diz que se isso acontecer, vai usar armas nucleares. Ninguém sabe ainda como lidar com essa ligação entre terrorismo e ação militar convencional que pode resultar em uma guerra nuclear. Não há precedentes.
Você acredita que o Paquistão esteja tomando as medidas necessárias para prevenir ataques isolados contra a Índia?
Não. E os paquistaneses reconhecem isso. Se estivessem fazendo o suficiente, o problema seria absorvido. O Paquistão e seus serviços de inteligência claramente têm uma estratégia de manter esses pequenos grupos operando para projeções no Afeganistão. No final das contas, isto está enfraquecendo o Paquistão, porque alguns desses grupos estão se voltando contra o país. Mas é evidente que o Paquistão não está fazendo o que pode para combater esses grupos.
Que medidas os EUA estão tomando em relação a isso?
Os Estados Unidos têm diversos objetivos. De um lado, precisamos do apoio da inteligência paquistanesa para levar suprimentos para operações no Afeganistão. Isso limita o poder de exigir o combate a esses grupos dentro do país. Haverá maior capacidade de lidar com o problema após a retirada das tropas do Afeganistão, em 2014. Mas, no final das contas, você não pode interceder tanto. O Paquistão deve escolher por suas próprias razões não tolerar esses grupos, que estão levando o Paquistão à ruína. Os paquistaneses devem se rebelar contra isso e os EUA não podem forçá-los. Além disso, o governo americano perdeu muita legitimidade no Paquistão. Nosso poder lá é limitado.
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